Abaixo reproduzimos o editorial do Partido da Causa Operária (PCO) em 27/06/2011, relacionado com as declarações do Bispo de Guarulhos (Luiz Gonzaga Bergonzini); que em entrevista à repórter Cristiane Agostine, do jornal Valor Econômico, publicada em 13 de junho, afirmou que há “uma ditadura gay” em curso e que uma “conspiração da Unesco transformará metade do mundo em homossexuais”. Esta forma de ver a conjuntura internacional poderia, por si só, chocar boa parte dos leitores, mas o bispo se supera no trecho da reportagem reproduzida aqui:
“Vamos admitir até que a mulher tenha sido violentada, que foi vítima… É muito difícil uma violência sem o consentimento da mulher, é difícil”, comenta. O bispo ajeita os cabelos e o crucifixo. “Já vi muitos casos que não posso citar aqui. Tenho 52 anos de padre… Há os casos em que não é bem violência… [A mulher diz] ‘Não queria, não queria, mas aconteceu…’”, diz. “Então sabe o que eu fazia?” Nesse momento, o bispo pega a tampa da caneta da repórter e mostra como conversava com mulheres. “Eu falava: bota aqui”, pedindo, em seguida, para a repórter encaixar o cilindro da caneta no orifício da tampa. O bispo começa a mexer a mão, evitando o encaixe. “Entendeu, né? Tem casos assim, do ‘ah, não queria, não queria, mas acabei deixando’”. (…) O bispo continua o raciocínio. “A mulher fala ao médico que foi violentada. Às vezes nem está grávida. Sem exame prévio, sem constatação de estupro, o aborto é liberado”, declara, ajeitando o cabelo e o crucifixo.
Dom Luiz Gonzaga Bergonzini
Sim, no teste do bispo, a vagina da mulher é uma tampa e a caneta é o pênis do estuprador. Se a mulher não quer ser violentada, basta que ela não permita que a tampa encaixe na caneta. Simples assim. É com esta humanidade que Dom Bergonzini escuta, há 52 anos, como ele faz questão de enfatizar, as católicas violadas que buscam acolhida e compaixão na sua igreja. E então passam por uma acareação através do método da tampa-vagina e da caneta-pênis*
Leia abaixo, o editorial do PCO:
A grande batalha travada pela Igreja nos dias de hoje é contra o direito de aborto. Não é contra a pedofilia praticada pelos seus padres, não é para dar comida e abrigo ao menos favorecidos, não é nem sequer para reduzir a mortalidade infantil, mas para colocar as mulheres na cadeia.
É importante ressaltar que quando a Igreja em coro com a direita faz campanha contra o aborto, o que está em jogo não é simplesmente inibir a prática do aborto, o que poderia ser feito com uma ampla campanha para a prevenção da gravidez, com uma ampla orientação sexual dos jovens e da população e geral, o acesso fácil e gratuito aos meios de prevenção etc. Do mesmo modo, a criação de creches suficientes para atender a todas as mulheres, a educação gratuita e de qualidade em todos os níveis, o aumento do salário mínimo e uma série de medidas que auxiliassem a mulher que tem filho, para que ela tivesse condições de criar os filhos também ajudariam a reduzir o número de abortos.
No entanto, não há nenhuma campanha no sentido de esclarecer e orientar a população, concedendo meios para prevenir a gravidez ou para criar os filhos. A campanha da Igreja é exclusivamente moral e tem como objetivo simplesmente reprimir, levando à prisão, as mulheres que interromperem a gravidez.
Se é tão importante acabar com a realização de abortos, por que não criar as condições para que as mulheres possam ter seus filhos?
A campanha para prender as mulheres que interromperem é tão intensa que os representantes da Igreja já nem escondem mais a sua crença em que o problema se resume à mulher, num retorno ao mito do “pecado original”.
São célebres as frases de bispos e padres declarando o aborto pior do que o estupro ou que “não há estupro sem o consentimento da mulher”.
Ou seja, a campanha contra o aborto é ao mesmo tempo uma campanha contra a mulher, que sem freios acabará resultando em uma perda de direitos sem precedentes das mulheres.
Nesse sentido, é cada vez mais comum mulheres serem presas acusadas de negligência em razão de acidentes sofridos por seus filhos. Em algumas cidades, tentou-se punir as mães cujos filhos não obtiveram um bom desempenho na escola. Em relação ao aborto, em países em que a Igreja conseguiu proibir totalmente a prática, mulheres chegaram a ser condenadas a 29 anos de prisão por aborto, e grande parte delas condenadas por abortos que não tinham realizados. A declaração recente do bispo sobre o estupro, se aceita, é um aprofundamento do que já ocorre hoje nas delegacias, onde as mulheres são transformadas de vítimas em culpadas.
Uma questão de que a Igreja se aproveita para realizar sua campanha e que, portanto, não pode ser ignorada nesse debate é a confusão que se faz entre o que é moralmente correto e o que é direito. Moralmente, podemos ser a favor ou contra o aborto, mas essa opinião não deve ser o que define as leis, como ocorre atualmente na maioria dos países. Ser a favor do direito de aborto não implica em ser a favor do aborto, mas apenas em defender o direito de as mulheres, quando julgarem necessário, interromperem a gravidez sem que por isso sejam condenadas à prisão.
O que muitos fingem não ver é que um Estado regido pela moral religiosa, como quer a Igreja Católica, ou seja, um Estado religioso, é o que há nos países islâmicos, tão criticados pela imprensa capitalista. Estados em que a mulher não tem o direito de sair nas ruas, de dirigir e em que é apedrejada quando é vítima de estupro.
Quando a moral rege as leis, o que há é um retrocesso nos direitos democráticos das mulheres e demais setores oprimidos em primeiro lugar, mas também, como consequência, de toda a população.
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